img.wp-smiley, img.emoji { display: inline !important; border: none !important; box-shadow: none !important; height: 1em !important; width: 1em !important; margin: 0 0.07em !important; vertical-align: -0.1em !important; background: none !important; padding: 0 !important; }var _gaq = _gaq || []; _gaq.push(['_set', 'UA-10951414-11']); _gaq.push(['_trackPageview']); (function() { var ga = document.createElement('script'); ga.type = 'text/javascript'; ga.async = true; ga.src = ('https:' == document.location.protocol ? 'https://ssl' : 'http://www') + './ga.js'; var s = document.getElementsByTagName('script')[0]; s.parentNode.insertBefore(ga, s); })(); .site-title, .site-description { position: absolute; clip: rect(1px, 1px, 1px, 1px); }

Interrogatórios revelam estratégias de defesa de réus da trama golpista na reta final do julgamento

Para juristas, Cid colocou os benefícios de sua delação em risco, as situações de Braga Neto, Alexandre Ramagem e Almir Garnier se mostraram complicadas e a tarefa da defesa de Bolsonaro é difícil

CNN Brasil
Interrogatorios dos réus da Ação Penal Foto: CNN Brasil

O avanço dos interrogatórios no Supremo Tribunal Federal (STF) revelou rachas internos, reposicionamentos estratégicos e um jogo de sobrevivência entre os réus acusados de tentativa de golpe de Estado. Em meio a versões conflitantes, silêncios calculados e tentativas de se descolar de antigos aliados, cada movimento nesta fase da ação penal ou a ser interpretado como um sinal de quem pode se fortalecer – ou se complicar ainda mais – e de quais estratégias devem ser adotadas às vésperas do voto do relator, ministro Alexandre de Moraes, e do julgamento final.

Na avaliação de criminalistas ouvidos pelo Estadão, o interrogatório de Mauro Cid, por um lado, colocou em xeque versões anteriores e acentuou a pressão sobre outros réus, especialmente Walter Braga Netto. Por outro lado, o silêncio tático de Augusto Heleno e o tom híbrido adotado por Jair Bolsonaro, que mesclou argumentos jurídicos, retórica política e confissões parciais, agravam o quadro jurídico do grupo na reta final do processo.

Para o criminalista Marcelo Crespo, coordenador do curso de Direito da ESPM-SP, Cid teve um desempenho considerado regular durante o interrogatório. O depoimento reforçou sua posição como peça-chave da acusação, mas também expôs fragilidades na colaboração premiada, o que pode abrir margem para questionamentos futuros sobre a consistência do acordo. “Ele também adotou uma postura evasiva”, ressalta.

Crespo destaca que Cid comprometeu nomes-chave da cúpula militar e política ao afirmar que o almirante Almir Garnier, ex-comandante da Marinha, teria colocado tropas da força naval “à disposição” para um plano de ruptura institucional; ao atribuir a Braga Netto a entrega de dinheiro vivo destinado à execução da trama golpista; e ao confirmar que o próprio Bolsonaro alterou pessoalmente uma minuta de decreto de teor golpista. Por outro lado, o criminalista pontua que Cid poupou nomes como o ex-ministro da Justiça Anderson Torres e o ex-chefe do Gabinete de Segurança Institucional, Augusto Heleno.

Embora tenha demonstrado disposição em responder às perguntas, Crespo avalia que Cid apresentou insegurança e lacunas importantes em determinados questionamentos durante o depoimento, o que sugere possível omissão de fatos relevantes – situação que pode colocar em risco os benefícios previstos em seu acordo de colaboração premiada, ainda que as provas já entregues permaneçam válidas. Levantamento do Estadão mostra que o ex-ajudante de ordens repetiu 42 vezes expressões como “não sei” ou “não me recordo” durante a oitiva. “Do ponto de vista estratégico, isso pode fragilizar o benefício negociado”, diz.

A expectativa, segundo Crespo, é que a linha de defesa nas próximas fases siga ancorada na colaboração, com Cid respondendo sempre que requisitado e buscando demonstrar que eventuais omissões não foram deliberadas, sob pena de perder os benefícios e até ser preso.

Se Cid tenta preservar a delação como trunfo, Jair Bolsonaro investe em uma estratégia de dupla camada: discurso jurídico aliado a reposicionamento político, avalia o criminalista Renato Vieira. Para ele, o ex-presidente adotou um tom mais comedido: manteve a calma, evitou confrontos diretos e, em certos momentos, chegou a pedir desculpas ao ministro Alexandre de Moraes e aos demais integrantes da Corte pelos ataques anteriores.

“Claramente seguiu orientação técnica da defesa. Ele já sabe que a absolvição é praticamente inviável, então pretende construir uma narrativa mais favorável para o cumprimento da pena, visando a prisão domiciliar”, diz.

Apesar da tentativa de adotar uma nova roupagem e de negar a intenção golpista, Vieira destaca que Bolsonaro reafirmou pontos sensíveis, como as reuniões com comandantes militares para discutir alternativas com o objetivo de reverter o resultado das eleições. Na avaliação do criminalista, essa postura configura uma espécie de confissão parcial da tentativa de golpe, complicando ainda mais sua situação jurídica.

Na mesma linha, o criminalista Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, avalia que esse trecho do depoimento agrava ainda mais a situação jurídica de Bolsonaro, por ele próprio ter itido o uso de instrumentos constitucionais com fins golpistas.

Para o jurista, essa deve ser justamente a estratégia da defesa: alegar que os atos descritos na denúncia não aram da fase de cogitação – que não é punível – e que, quando discutidos, ocorreram por meio de mecanismos previstos na Constituição, como o estado de defesa, o estado de sítio ou a Garantia da Lei e da Ordem (GLO). Ainda assim, Kakay pondera: “Pelas provas reunidas, não vejo como a defesa sustentar essas linhas na fase seguinte de julgamento”.

Outra frente que deve ganhar força nas próximas etapas será o ataque à validade das provas obtidas ao longo da investigação. Vieira chama atenção para a estratégia de identificar vícios processuais em fases anteriores que possam comprometer a cadeia de provas e abrir brechas para nulidades.

Um exemplo claro da atuação de Celso Vilardi, advogado de Bolsonaro, ocorreu quando, em determinado momento do interrogatório, o defensor questionou se Cid teria utilizado uma conta no Instagram para se comunicar com outros réus, o que violaria a decisão de Moraes e poderia comprometer a legalidade de provas subsequentes.

Vilardi também colocou em dúvida a voluntariedade da delação de Cid, em tentativa explícita de fragilizar os elementos obtidos via colaboração. Conhecido por sua atuação técnica nessa linha, o advogado já obteve a anulação de provas em casos emblemáticos como a Operação Lava Jato, o Mensalão e a Castelo de Areia.

General Heleno adota o silêncio, e demais réus tentam desqualificar delação de Cid

Enquanto isso, o general Augusto Heleno optou por uma estratégia de autopreservação. Para Marcelo Crespo, chamou a atenção sua postura cautelosa: recorreu ao direito constitucional ao silêncio e respondeu apenas às perguntas de seu próprio advogado. “Mesmo assim, não foi assertivo nas respostas, o que pode acabar complicando sua situação jurídica”, avalia.

Crespo entende que a linha de defesa daqui em diante deve ser demonstrar que Heleno não participou dos momentos-chave da articulação golpista, como as reuniões de dezembro de 2022 no Palácio da Alvorada, e que, se houve algum envolvimento, este se restringiu ao campo da cogitação, por meio de conversas informais, sem qualquer o concreto rumo à execução de um golpe.

Já no caso de investigados com atuação mais direta, o cenário é mais preocupante. Crespo aponta que Braga Netto, Alexandre Ramagem e Almir Garnier estão em posição jurídica mais delicada. Apesar de terem adotado um tom mais incisivo de negação durante os interrogatórios, as provas contra eles são robustas e os colocam no centro da engrenagem golpista.

Ele aponta que, diante desse cenário, a estratégia parece ser a mesma: desqualificar a delação de Mauro Cid, como já tentou fazer Braga Netto. “Não me parece que a situação jurídica desses envolvidos melhorou com suas declarações. Pelo contrário, entendo que os interrogatórios serviram para decretar que deliberações e conversas sobre ‘alternativas à sucessão’ do Lula eram uma realidade”, diz Crespo.

Estadão

Compartilhe esta notícia!

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

pt_BRPortuguese